sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Senta que lá vem História!

Origem e disperção do gene bs
Autor: Paulo Cesar Naoum

A dispersão do gene da Hb S

A dispersão do gene da Hb S pode ter ocorrido entre 50 mil e 100 mil anos quando os nossos ancestrais se deslocaram para o sudeste da Ásia e para a Austrália. Estudos antropológicos recentes revelaram que há 50 mil anos os H. sapiens sapiens se deslocaram para várias regiões da Ásia, atingindo o Oriente Médio e a Sibéria.
Por volta de 60 mil anos a migração se deu no sentido Ásia e Austrália, e há 40 mil anos a movimentação ocorreu para diversas regiões da Ásia, com destaque ao Oriente Médio e Sibéria.
Entretanto, admite-se que a expansão da Hb S se deu efetivamente no período Pré-Neolítico, entre 10 mil e 2 mil anos a.C., marcada pela miscigenação entre diferentes povos da região do Saara. Nesse período, o Saara era composto por terras férteis e com agricultura desenvolvida para o abastecimento de suas populações. No período Neolítico (3.000 – 5.000 a.C.) ocorreu a transmissão da infecção parasitária causada pelo Plasmodium falciparum proveniente da região que hoje corresponde à Etiópia. Destaca-se durante esse período o aumento do processo migratório, o assentamento de grupos populacionais e o estabelecimento de grandes centros de civilizações no vale do rio Nilo, bem como na Mesopotâmia, Índia e Sul da China. A malária se expandiu entre esses quatro principais centros, e no caso específico relacionado com a Hb S, a malária se estendeu do vale do Nilo para a costa do mar Mediterrâneo. Acredita-se, assim, que nesse período teve início a pressão seletiva favorável aos portadores heterozigotos da Hb S (ou Hb AS) frente ao desenvolvimento da doença causada pela malária. Com a desertificação do Saara, ocorrida no período Neolítico Posterior (2.000 a 500 anos a.C.), suas populações migraram para outras regiões da África, atingindo, inclusive, as regiões banhadas pelo mar Mediterrâneo. É importante destacar a explicação sobre a expansão da Hb S no período Pré-Neolítico que foi dada pelo Professor Stuart J. Edelstein em seu livro "The Sickled Cell". O professor Edelstein calcula que se a prevalência de indivíduos com Hb AS dobra a cada sete gerações, seriam, assim, 17 duplicações necessárias para se aproximar da atual prevalência de Hb AS na África envolvendo 119 gerações (ou seja 7 x 17 = 119). Se for estimado 20 anos para cada geração, resulta que a dispersão da Hb S ocorreu efetivamente há cerca de 2400 anos, a partir do momento em que a população se estabilizou alavancada principalmente pelo desenvolvimento agrícola, organização social, além do discutível fator seletivo exercido pelo Plasmodium falciparum. No período Medieval, entre os séculos 1 e 15, o gene da Hb S atingiu o leste e sudeste da Europa. Por fim, a introdução do gene da Hb S nas Américas, e especificamente no Brasil, se deu entre os séculos 16 e 19, motivado pelo tráfico de escravos africanos. Abaixo está um resumo  da evolução cronológica da dispersão do gene da Hb S.
– Evolução cronológica da mutação do gene para Hb S
Período: Paleolítico/Mesolítico. Ano: 50 mil – 100 mil anos. Evento: Ocorrência da mutação do gene bA para bS em três regiões da África.
Pré-Neolítico; 10 mil – 2 mil anos a.C. Crescimento populacional no Saara com marcante miscigenação entre os povos.
Neolítico: 3 mil – 500 anos a.C. O aumento da transmissão da malária acompanha a revolução agrícola e exerce possível pressão seletiva para o gene bS.
Neolítico Posterior: 2 mil – 500 anos a.C. A desertificação do Saara promove intensa migração populacional para todas as direções e, consequentemente ocorre a dispersão de gene bS.
Medieval: 700 anos d.C. século XV. Dispersão do gene bS para o sudeste e leste europeu.
Moderno: Séculos XV – XVIII. Dispersão do gene bS pelo tráfico de escravos africanos para as Américas e Caribe.
Contemporâneo: Século XIX.  Fase final do tráfico de escravos africanos (1850) e início da imigração européia para o Brasil. Tem início o processo de expressiva miscigenação da população brasileira.

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